sexta-feira, 10 de julho de 2009

Não encontrei um título


Ao começar esse blog, nunca quis ou pensei em transformá-lo em espaço confessional. Mas, “sometimes” é impossível fugir.

Essa semana, me deparei com uma situação muito difícil. Minha mãe, uma senhora de mais de 80 anos, foi vítima de uma tentativa de golpe por telefone. Todos nós somos alertados diariamente, seja pela imprensa, polícia ou relato de amigos, para as estratégias utilizadas pelas quadrilhas. Mas quando acontece, esteja você na condição de vítima ou de pai, mãe, filho, irmão, você se sente completamente despreparado para lidar com a situação. Minha mãe está traumatizada e envergonhada por ter caído na conversa do golpista, a ponto de ter informado meu local de trabalho e número de celular.

E aí vem a pergunta: o que se faz numa hora assim? Como lidar com uma senhora que soluça escondida a noite, por ter “errado”, porque se sente culpada por ter exposto sua família, aquela que a vida inteira ela defendeu e protegeu? Eu, quase sempre intolerante e sem paciência com as dificuldades diárias que a convivência com a idade impõem, fiz o que meu coração mandou: me deitei ao lado dela, compartilhei a responsabilidade, o erro, a impotência e depois fiquei quietinha.

No dia seguinte, quando estávamos mais calmas, tentei conversar. Não sei se ela tem compreensão para alcançar essa realidade que nos toma de assalto dentro de casa, lugar considerado seguro até pouco tempo atrás. Mas conversando talvez possamos superar e minimizar riscos. Não sei se o caminho certo é este. Aliás, nem sei se há caminho certo em casos assim. Agi por instinto. Espero não ter errado, mais uma vez, nesta relação tão difícil entre filhos e pais idosos e dependentes.

domingo, 5 de julho de 2009

Metamorfose


Assistindo ao noticiário sobre a Cúpula da União Africana, realizada na Líbia semana passada, levei um susto com a cara do Khadafi. O que é aquilo? Ele sempre foi assustador pelo que representa, mas era até um árabe interessante, fisicamente falando. Agora o homem está deformado.

Para os mais novos, que talvez não saibam, Khadafi está no poder há 40 anos. Desde 1969 é o homem forte da Líbia, eufemismo para ditador. Homem polêmico, acusado de terrorismo, chegou a assumir a responsabilidade pela explosão do avião da Pan Am sobre a Escócia em 1988, quando morreram 270 pessoas.

Aí fiquei pensando nas transformações físicas que tenho visto, principalmente nos meios artístico e político. Será que as pessoas não têm crises de identidade quando se olham no espelho? Lembrei do Raul Seixas em metamorfose ambulante. As mudanças têm sido buscadas mais na aparência do que na reflexão.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Santo Antônio

Minha amiga Marta (codinome) fez aniversário em junho e é devota de Santo Antônio, que é, também, um dos santos do mês. Como estive com ela poucos dias atrás, lembrei-me de uma pequena história.

Há alguns anos, eu vivia uma fase muito difícil, com grave problema de saúde em casa. Eis que Marta, sempre solidária, chega com uma novena de Santo Antônio. No papelzinho estavam as instruções:

"Durante nove terças-feiras acenda uma vela e reze cinco vezes o Pai Nosso, a Ave Maria e Glória ao Pai.
Ofereça a Santo Antônio e faça cinco pedidos: dois impossíveis e três fáceis.
Apague a vela, assim que terminar os pedidos.
Na última terça-feira, deixe queimar até o fim."

Antes mesmo de começar, recebo um telefonema de Marta. Ela me pede para corrigir a novena quanto ao grau de dificuldade dos pedidos. Afinal, disse ela, "para Santo Antônio nada é impossível". Podia fazer até cinco pedidos difíceis. Achei engraçado corrigir uma novena e rimos muito juntas.

Decidi rezar e, claro, fazer meus cinco pedidos. Distraidamente, talvez mais concentrada nos pedidos que faria depois, rezei o Pai Novo e a Ave Maria cinco vezes. E continuei com:

"Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do Céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu Único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém."

Rezei cinco vezes e apaguei a vela.

Nas terças-feiras seguintes, dei segmento à novena, cheia de fé, como só nas horas difíceis descobrimos possuir. Depois de umas seis semanas .... bem, só havia um cotoco da vela que deveria durar as nove semanas. Entrei em desespero! A vela ia acabar antes do final da novena. Que tragédia! Marta, socorro!!!!!!!!!!!!!!!! Que é que eu faço? O que fiz de errado?

Ok. Vocês perceberam? Releiam as instruções. Viram? Eu tinha que rezar:

"Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Amém".

A descuidada aqui estava rezando o Credo, a oração errada, que é muito maior!!!!!!!!!!!!!

Nas semanas seguintes, pedi muitas desculpas a Santo Antônio e rezei o mais rápido que pude. E a vela, felizmente, chegou ao final da novena!

Não sei se vocês acharam graça, mas sempre me divirto muito quando relembro essa história. A novena não curou meu irmão, mas, além de me divertir, certamente, me fortaleceu para vencer os momentos difíceis.

Marta, amiga querida, este post é para você. Reze para Santo Antônio, ele não vai te desamparar!