Ao começar esse blog, nunca quis ou pensei em transformá-lo em espaço confessional. Mas, “sometimes” é impossível fugir.
Essa semana, me deparei com uma situação muito difícil. Minha mãe, uma senhora de mais de 80 anos, foi vítima de uma tentativa de golpe por telefone. Todos nós somos alertados diariamente, seja pela imprensa, polícia ou relato de amigos, para as estratégias utilizadas pelas quadrilhas. Mas quando acontece, esteja você na condição de vítima ou de pai, mãe, filho, irmão, você se sente completamente despreparado para lidar com a situação. Minha mãe está traumatizada e envergonhada por ter caído na conversa do golpista, a ponto de ter informado meu local de trabalho e número de celular.
E aí vem a pergunta: o que se faz numa hora assim? Como lidar com uma senhora que soluça escondida a noite, por ter “errado”, porque se sente culpada por ter exposto sua família, aquela que a vida inteira ela defendeu e protegeu? Eu, quase sempre intolerante e sem paciência com as dificuldades diárias que a convivência com a idade impõem, fiz o que meu coração mandou: me deitei ao lado dela, compartilhei a responsabilidade, o erro, a impotência e depois fiquei quietinha.
No dia seguinte, quando estávamos mais calmas, tentei conversar. Não sei se ela tem compreensão para alcançar essa realidade que nos toma de assalto dentro de casa, lugar considerado seguro até pouco tempo atrás. Mas conversando talvez possamos superar e minimizar riscos. Não sei se o caminho certo é este. Aliás, nem sei se há caminho certo em casos assim. Agi por instinto. Espero não ter errado, mais uma vez, nesta relação tão difícil entre filhos e pais idosos e dependentes.