terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Potes de sorvete, vidros de azeitonas, caixas de ovos ......

Vinte potes vazios de sorvete. Dez vidros vazios de azeitonas, doces, etc. Trinta e cinco caixas vazias de ovos de codorna ou de galinha. Um pneu usado. Quatro mudas de árvores. Estes itens fazem parte da minha bagagem para a próxima viagem!?!?!?!?!?!

Antes que alguém pense que sou doidinha, devo dizer que sou filha de uma velhinha mineira. Acho que depois desta declaração pelo menos os goianos e os mineiros me entendem. Minha Mãe faz 84 anos agora em dezembro. Nasceu nos anos vinte em uma fazenda no interior de Minas. Portanto, esqueçam o que vocês leram em “Os anos loucos, Paris na década de 20”. Nada de dinheiro, arte, moda, festas, amores e drogas. A vida era duríssima. Osório e Luisinha, meu avô e minha avó, viviam numa fazenda e tiveram 11 filhos... eu já disse que não era Paris.... Minha Mãe e meus tios e tias estudavam na própria fazenda, quando havia uma professora disposta a encarar o desafio, ou seguiam para o vilarejo mais próximo. Iam a pé ou no máximo em carro de boi. Automóvel era algo impensável naqueles tempos e paragens. Alguns tinham missões especiais, como meu tio Ivan: ele devia diariamente pegar o jornal na estação de trem e levar para Seu Osório. E ai dele se esquecesse. Uma vez falou: “Paizinho (era assim que Seu Osório era chamado pelos filhos e netos), leia de novo o de ontem, que amanhã trago o de hoje.” Depois de levar uma corrida de cinto, voltou a pé três quilômetros de ida e três de volta para buscar o tal jornal!

E o que isso tem a ver com a lista lá de cima? Tudo, porque a vida era muito dura, vivia-se da terra e, neste contexto, tudo era útil. E minha Mãe casou-se, foi morar no Rio de Janeiro e depois veio para Brasília. Mas aquela “simplicidade” continuou em seu coração: “Minha filha, isto pode servir por lá”. Seja para fulano, beltrano, parente ou não, ela insiste. E, embora hoje a parte da família que ainda vive lá tenha acesso a todas as modernidades, é melhor não discutir. Insistência nessa idade é teimosia pura! Se você não acatar vira discussão ou chantagem! E eu, que nem nasci em Minas, mas me considero mineira - gosto de queijo, torresmo, linguiça e pernil - me rendo, até achando minha Mãe moderna, afinal o que ela propõe é uma forma de reciclagem!