Ainda da viagem
à Santarém, cansada e suada do calor amazônico, apresento Laurimar Leal ou Ramirual Lael, já que, segundo ele, seu nome é em aramaico invertido. Lael é Deus. Laurimar é forte, poderoso.
Descendente de judeus, com bisavô rabino, e de escrava angolana, Laurimar é um
homem surpreendente. Aos 71 anos, cego em consequência do glaucoma, ele mantém
a memória impecável. Estudou em um seminário franciscano na Paraíba, mas
desistiu pois sua paixão pela arte não era compreendida. Preferiu se dedicar ao
canto e às artes plásticas. Há muitas esculturas de sua autoria espalhadas por
Santarém. Laurimar padeceu e padece ainda das dificuldades financeiras comuns
aos artistas. Então, em certa ocasião, ele reuniu todas as telas que tinha
produzido e foi vender na praça Barão de Santarém. Um grupo de franceses em
passeio fluvial pela Amazônia adquiriu todas as suas obras e poucos meses
depois ele recebeu um convite de uma instituição chamada Sol 3, convite assinado
por Mandela e Lady Diana, para ir à França. E assim ele foi parar na Europa com apenas 75 dólares. Viajou bastante por lá, produziu algumas telas baseadas em lendas
amazônicas, classificadas como surrealismo amazônico, e estudou restauração de
obras de arte. Como homem de cultura, foi secretário de cultura de Santarém e o
encontrei no Centro Cultural João Fona, onde conta suas histórias. Ele tem o Centro
Cultural como um filho e anda bastante preocupado com as obras em andamento,
pois receia que ao invés de restauração façam um remodelamento no edifício
construído entre 1853 e 1868 e onde já funcionou a Câmara Municipal, Fórum de
Justiça, Cadeia Pública, Intendência Municipal e Prefeitura Municipal. Laurimar
é um homem que preza e luta pela preservação da arte e cultura não só tapajônicas, que
vive em um mundo fantástico, onde o espírito domina. Ele foi o personagem de um
documentário denominado Laurimar e suas Lendas, que merece ser visto. O
documentário está disponível no Youtube dividido em 10 partes. Para acessar a primeira parte clique aqui. Vejam, também, a matéria feita pela Record News Santarém.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
D. Dica Frazão
D. Dica Frazão é uma artesã que trabalha com matérias-primas naturais e confecciona peças belíssimas. Aos 93 anos, foi ela quem me ciceroneou no pequeno museu que mantém em sua casa em Santarém, no Pará. Quando cheguei, mesmo enxergando apenas com uma vista, encontrei-a costurando florezinhas de sementes de melão. E ela começou a contar suas histórias. Órfã muito cedo, criou os 7 irmãos trabalhando na roça e costurando. Ao casar foi viver em Santarém, considerando-se santarena ou mocoronga (outro gentílico para os de Santarém). D. Dica tem um dom especial de imaginar e elaborar modelos de roupas e acessórios utilizando fibras vegetais ou penas de animais domésticos. Ela trabalha com patchouli, buriti, malva e a casca de uma árvore especial que desconhece o nome, pois os índios mundurucus jamais o revelaram. Muito conversadeira e lúcida, mostra seu trabalho e explica que tem peças no Vaticano, na casa real da Bélgica e até em Brasília. Segundo ela, quando a Presidente Dilma foi eleita mandou um vestido por uma portadora, mas nunca recebeu um agradecimento, o que credita à portadora não ter entregue o presente ou de tê-lo dado em seu próprio nome e não no da artesã. Ela gostaria muito de conhecer a Presidente e que esse recado chegasse ao Palácio do Planalto. Vive de uma pensão e das vendas de suas peças. Hoje se locomove em uma cadeira de rodas, pois quebrou o fêmur, foi operada em Belém e ainda não se recuperou. Ficou viúva muito cedo, mas casou-se uma segunda vez, 42 anos atrás, com um homem 22 anos mais novo. Mulher batalhadora, talentosa e decidida, D. Dica sempre esteve à frente de seu tempo, apesar da pouca instrução. Infelizmente, ainda não conseguiu formar uma pessoa para dar continuidade ao seu trabalho. Alguém se habilita? Vejam abaixo algumas fotos e o link para uma matéria da Record News Santarém, quando poderão ver o quão lúcida e especial é essa mulher.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
A Casa da Árvore
Era uma vez um lugar muito divertido. Lá a vida era lúdica como em
nenhum outro. Era a Casa da Árvore. Trabalhava-se muito por lá, pois a função
da Casa era dar sentido a construções linguísticas quase sempre elaboradas às
pressas pelos moradores da sede. As que lá viviam tinham as palavras como matéria
prima e, para tanto, consultavam e consultavam gramáticas e dicionários.
Um dia, uma maluquinha que vivia na vizinhança avisou às amigas da
Casa da Árvore que iria para longe. Ela sentia a alegria esvair-se e não queria
viver triste, sem criatividade e magia a envolvê-la. E aí as generosas e
acolhedoras habitantes da Casa da Árvore a convidaram:
- Venha para cá!
E a maluquinha, entre atordoada e feliz, recebeu aquele convite
imperativo e resolveu aceitá-lo. Desde então, muito desajeitada no pequeno
galhinho que a sustenta, tem insistido em relembrar e estudar as lições de
outrora, quando as concordâncias verbal e nominal eram puro exercício teórico.
Para tanto, tem buscado, também nas papelarias, as ferramentas necessárias: são
canetinhas, borrachas, marcadores, clipes e cadernos coloridos, além de pastas
transparentes para organizar as lições aprendidas no dia a dia.
A maluquinha está feliz, a trabalhar perdida entre vírgulas,
crases e azimutes e a receber amigos que gostam de folhas de bananeira, sob os
olhares complacentes e compreensivos das amigas da Casa da Árvore. Obrigada, Meninas queridas!
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