Por que será que prendem os lençóis?
Perdoem-me, mas, os meus, vou libertá-los à força.
Caros lençóis, juntem suas tramas, travem suas fibras e...
Vapt, vupt...
Ah, como é bom descobrir os pés no verão e embrulhá-los no inverno...
Por que será que prendem os lençóis?
Com PH ácido e sem matinhos nas margens, surpreenda-se, não há pernilongos na região do Rio Negro. A água tem cor de chá preto, devido à decomposição da vegetação. Na seca existem praias de areia clara, contrastando com a cor da água do rio. Tive o privilégio de me banhar nestas águas e assistir a um pôr-do-sol magnífico. A noite pude observar, de dentro do barco parado no centro do rio, um céu deslumbrante. Foram momentos mágicos.
Sobrevivência na selva? Ui! Ainda na trilha, comi um bichinho que gosta de habitar um coquinho. Acho que é uma larva de algum inseto. Nunca pensei que fosse capaz...quando você morde faz “ploc"...São estas rodinhas brancas sobre o tronco à esquerda da foto. Tem gosto de coco e é pura proteína. Ficou com nojo é? Atire a primeira pedra quem nunca comeu goiaba com bicho!
E eis que a programação incluía pescaria de piranha. Pensem numa coisa, digamos, chata...é pior....fazia um calor de cão e só consegui pescar uma!!!!!!!!! E mínima! Muito a contragosto, apresento a prova, ou melhor, as provas: de que pesquei a piranha e de que estou gorda. Triste decadência!
Agora, uma das melhores lembranças: os botos cor-de-rosa! Não sei se é correto o que é feito, mas é inesquecível estar junto destas criaturas incríveis! Em Novo Airão, em um restaurante muito, muito simples, eles vêm comer e nadar com a gente. É uma emoção única poder tocar e interagir com os botos! Para completar, depois do mergulho, fomos à Fundação Almerinda Malaquias, um projeto social interessantíssimo, que alia educação, geração de renda e sustentabilidade. Os artesãos produzem papel reciclado e peças com resíduos de madeiras de serrarias e estaleiros da região. São peças que mostram a fauna amazônica. E ainda fomos todos de mototaxi, inclusive um casal italiano com mais de 70 anos. Ainda bem que o homem não mergulhou, pois seus bigodes esconderiam os botos!
Não sei se é possível perceber na foto, mas este é o Curumim. Ele tem o bico torto e já é um senhor. Os dois primeiros a frequentar o "restaurante" foram ele e Ricardo. Hoje são dezesseis botos cor-de-rosa.
Prepare-se para um calor de derreter! Mas a população transforma tudo em calor humano! Os amazonenses são de uma simpatia e cortesia encantadoras. Nas ruas, nos taxis, nos hotéis, nas lojas todos são gentis, educados e estão sempre dispostos a ajudar e informar.
Impressionou-me, também, o turismo altamente profissional. Guias com conhecimento do que apresentam e fluentes em inglês, espanhol, francês, alemão. Alguém pode dizer que se não fosse assim os turistas estrangeiros, principais visitantes da região, não viriam. Eles viriam de qualquer forma, mas houve investimento em formação de mão de obra para o setor. Não sei se com o apoio do estado ou com esforço puramente pessoal, mas houve qualificação.
Quando estiver por lá, não deixe de visitar o Teatro Amazonas, o monumento que melhor representa a riqueza do período áureo da borracha. Bom, a riqueza dos barões da borracha. Os seringueiros, estes eram espoliados. Salve Chico Mendes, que trabalhou arduamente pela defesa da floresta e dos povos que a habitam! Mas, voltando ao teatro, ele foi inaugurado em 1896. São 700 lugares em uma estrutura metálica de ferro fundido. Quem executou ou encomendou a decoração e as obras de arte do teatro foi Crispim do Amaral, um pernambucano de nascimento que estudou em Paris. Foi Crispim quem pintou o pano de boca da sala de espetáculos, que representa o encontro das águas e sobe inteiro até a cúpula, sem ser amassado ou dobrado. A cúpula arrendondada é revestida com 36 mil peças de escamas em cerâmica esmaltada e telhas vitrificadas, importadas da Alsácia. Observe que as cores são as nossas cores, do Brasil. No teto central um lustre de bronze, circundado por alegorias à música, ao drama e à tragédia, além de uma homenagem a Carlos Gomes. O salão nobre é inteiramente revestido por painéis de Domenico Angelis, representando motivos regionais e ilustrações do romance O Guarany. Os portais são todos em mármore e o assoalho é um lindo trabalho de marchetaria confeccionado com madeiras da região. Os candelabros são de Murano.
No mesmo dia, visitei o antigo Quartel da Política Militar (ou Palacete Provincial) e a Praça da Polícia. Ambos passaram por um belo trabalho de restauração. O edifício do quartel abriga hoje, dentre outras atrações, a Pinacoteca do Estado, o Museu da Imagem e do Som e o Museu de Numismática. A Pinacoteca conta com o acervo Thiago de Mello, doação do poeta amazônico.
O porto de Manaus, projetado e construído pelos ingleses em 1902 para escoamento da produção da borracha, é uma obra de engenharia desafiadora, porque o desnível entre a enchente e a vazante pode chegar a 15 metros. A flutuação permite a atracação de embarcações em qualquer época do ano.