terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Potes de sorvete, vidros de azeitonas, caixas de ovos ......

Vinte potes vazios de sorvete. Dez vidros vazios de azeitonas, doces, etc. Trinta e cinco caixas vazias de ovos de codorna ou de galinha. Um pneu usado. Quatro mudas de árvores. Estes itens fazem parte da minha bagagem para a próxima viagem!?!?!?!?!?!

Antes que alguém pense que sou doidinha, devo dizer que sou filha de uma velhinha mineira. Acho que depois desta declaração pelo menos os goianos e os mineiros me entendem. Minha Mãe faz 84 anos agora em dezembro. Nasceu nos anos vinte em uma fazenda no interior de Minas. Portanto, esqueçam o que vocês leram em “Os anos loucos, Paris na década de 20”. Nada de dinheiro, arte, moda, festas, amores e drogas. A vida era duríssima. Osório e Luisinha, meu avô e minha avó, viviam numa fazenda e tiveram 11 filhos... eu já disse que não era Paris.... Minha Mãe e meus tios e tias estudavam na própria fazenda, quando havia uma professora disposta a encarar o desafio, ou seguiam para o vilarejo mais próximo. Iam a pé ou no máximo em carro de boi. Automóvel era algo impensável naqueles tempos e paragens. Alguns tinham missões especiais, como meu tio Ivan: ele devia diariamente pegar o jornal na estação de trem e levar para Seu Osório. E ai dele se esquecesse. Uma vez falou: “Paizinho (era assim que Seu Osório era chamado pelos filhos e netos), leia de novo o de ontem, que amanhã trago o de hoje.” Depois de levar uma corrida de cinto, voltou a pé três quilômetros de ida e três de volta para buscar o tal jornal!

E o que isso tem a ver com a lista lá de cima? Tudo, porque a vida era muito dura, vivia-se da terra e, neste contexto, tudo era útil. E minha Mãe casou-se, foi morar no Rio de Janeiro e depois veio para Brasília. Mas aquela “simplicidade” continuou em seu coração: “Minha filha, isto pode servir por lá”. Seja para fulano, beltrano, parente ou não, ela insiste. E, embora hoje a parte da família que ainda vive lá tenha acesso a todas as modernidades, é melhor não discutir. Insistência nessa idade é teimosia pura! Se você não acatar vira discussão ou chantagem! E eu, que nem nasci em Minas, mas me considero mineira - gosto de queijo, torresmo, linguiça e pernil - me rendo, até achando minha Mãe moderna, afinal o que ela propõe é uma forma de reciclagem!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Lençóis

Por que será que prendem os lençóis?
Pobres lençóis, com as pontas sempre esmagadas pelo peso dos colchões.
Vivem subjugados.
Quanta opressão!
Perdoem-me, mas, os meus, vou libertá-los à força.
Caros lençóis, juntem suas tramas, travem suas fibras e...
Vapt, vupt...
Ah, como é bom descobrir os pés no verão e embrulhá-los no inverno...

domingo, 22 de novembro de 2009

Piraíba (lenda?!?!?!?!)

São diversas as lendas amazônicas. A mais conhecida talvez seja a do boto cor-de-rosa. Ao anoitecer ele se transforma num lindo homem, seduz as moças e volta ao rio de madrugada, quando reassume sua forma de “peixe”. Quando alguma moça aparece grávida sem que se conheça o pai, diz-se que ficou grávida do boto.

Mas o que quero contar aqui é a lenda da piraíba. Ou melhor, contar uma estória que ouvi por lá. A piraíba é um “bagre” enorme, podendo pesar até 300 kg. Diz-se que ele é capaz de engolir um homem.

Conheci um barqueiro com não mais de trinta anos, vou chamá-lo de José, que contou o seguinte:

- Meu pai foi-se quando eu tinha seis anos.

Num primeiro momento, entendi que o pai do rapaz havia morrido quando ele tinha seis anos. Mas ele continuou, dizendo:

- Durante muitos anos não soube de meu pai.

Aí percebi que pai do rapaz havia abandonado a família. E ele relatou o seguinte:

- Tempos atrás, encontrei um senhor que afirmava ter conhecido meu pai. Então perguntei seu paradeiro, ao que o homem respondeu que não adiantava procurá-lo, porque meu pai havia desaparecido no rio, devorado pela piraíba.

Fiquei pensando que este episódio marcou o ponto final de uma procura, de uma história pessoal doída, que ainda o fazia falar com a voz embargada pela emoção. Lenda? Quem sabe? São os mistérios da natureza e das crenças dos ribeirinhos.

Tropical Hotel

O Tropical Hotel Ecoresort foi um dos primeiros, senão o primeiro resort do Brasil. Inaugurado em 1976 e com mais de 500 apartamentos, o hotel tem até orquidário e zoológico. É um ícone da hotelaria nacional. Pena que está precisando urgente de reformas e mudanças. O estado dos banheiros é sofrível. Os quartos ou tem piso de carpete, nada conservado, ou de tábua corrida que range todo o tempo. O restaurante com buffet é bastante variado, mas a comida não é boa, pelo menos não estava no dia em que comi por lá. O serviço também deixa a desejar. Então, eu e Silvana resolvemos usar o serviço a la carte e pedimos um creme de mandioquinha e uma massa com molho de tomate. O primeiro parecia um mingau de fubá e o segundo veio com um molho que era puro extrato de tomate. Além do já descrito, sai caro sair do hotel. Como eles dizem a corrida é tarifada (R$ 49,00 quase todas as corridas). Assim, gasta-se R$ 100,00 (ida e volta) apenas com transporte para ir ao Teatro, ao Bosque da Ciência ou a restaurantes como o Choupana. Talvez a hospedagem no Tropical Business seja melhor, já que o hotel é novo. Ele tem uma piscina maravilhosa debruçada sobre o Rio Negro. Mas o ecoresort não recomendo!

Ponte sobre o Rio Negro


Por que um post separado para uma ponte? Bom, além de ser uma obra de engenharia importante, ela terá diversos impactos – ambientais, econômicos, sociais.

Primeiro vamos à travessia. As balsas demoram cerca de 1 hora para cruzar o rio. Elas são gratuitas para os pedestres, que, assim, as utilizam apesar de lentas. A alternativa dos barcos rápidos custa R$ 5,00 cada trecho. Para um trabalhador é muito caro. Atira-se de tudo no rio: garrafas, copos, palitos de picolé, cigarros, papéis. Fiquei preocupada também com a segurança, porque as pessoas não descem dos carros durante a travessia. Também não vi fiscalização.

A ponte é uma obra cara e ligará Manaus a três outros municípios amazonenses – Iranduba, Manacapuru e Novo Airão – com um total de 130.000 habitantes (dados do IBGE). Questiona-se se não seria melhor investir na melhoria dos portos e das balsas, o que demandaria muito menos recursos. A verdade é que a razão é puramente econômica. Manaus deverá crescer para o outro lado do rio, onde, também, está boa parte da produção que abastece a capital. A ponte facilitará o escoamento da produção de hortaliças e das olarias (tijolos, telhas e cerâmicas), já instaladas na região. Mas e as questões ambientais ou das populações tradicionais? Elas foram consideradas? Observando as margens da estrada, asfaltada a cerca de cinco anos e ainda sem a ponte, constatamos que ela facilitou a ocupação humana e vieram as queimadas, já que as famílias buscam a subsistência plantando mandioca ou criando gado em pequena escala. Estas visões acenderam uma luz vermelha em mim.

É justo uma turista de poucos dias julgar? A ponte dará conforto à população que precisa cruzar o rio para estudar ou trabalhar. A “batalha” diária daquelas pessoas, que muitas vezes dormem nas balsas e ônibus me sensibilizou. E fiquei balançada...será que não há um ponto de equilíbrio que proporcione mais conforto às populações, sem impactar negativamente o meio ambiente da região?

Anavilhanas Jungle Lodge



Não gosto da denominação “hotel de selva”. Prefiro “hotel de floresta”. Acho que, além de mais poético, reflete melhor o propósito dos hotéis e dos hóspedes de integração com a natureza. Mas o hotel escolhido chama-se Anavilhanas Jungle Lodge. Então, vamos a ele, porque recomendo com muitas estrelinhas.

O traslado é um pouco cansativo, mas nada que comprometa a magia da viagem. O hotel fica próximo ao município de Novo Airão. Primeiro faz-se a travessia de balsa do Rio Negro, em Manaus, e depois viaja-se em estrada de asfalto por mais 176 km. Os portos da travessia são precários, assim como as balsas – malcuidadas, sujas e nada cheirosas. Estão construindo uma ponte, objeto de muitas controvérsias (haverá um post só para ela). É possível ir de hidroavião, se você tiver dinheiro e quiser se aventurar em um monomotor sobre o rio e a floresta.

O lodge foi inaugurado em 2007, portanto é novo, e desde o mês passado faz parte da lista do Roteiro dos Hotéis de Charme. Hoje são apenas 16 apartamentos, o que permite um atendimento acolhedor. Estão construindo mais 10, com TV a cabo e banheira para atender a demanda estrangeira, e nada mais. Eles não pretendem se transformar em um resort com 300 quartos como o Ariaú. A decoração é rústica e de bom gosto, combinando perfeitamente com o ambiente. A piscina e o redário são uma delícia, os apartamentos são confortáveis, e receptivo, guias e barqueiros gentis e preparados.Afinal, onde você pensa que vai encontrar um guia italiano conhecido como Moreno, que faz focagem de animais e pescaria de piranhas? Ou um filho de indiano com índia ianomâmi chamado Krishna que se orgulha de já ter passado 41 dias na selva em treinamento de sobrevivência? E há outros exemplos, o staff é realmente diferente. A comida é simples, mas saborosa e, importante, sempre nos apresentando os sabores da região. Que tal um pirarucu (o bacalhau brasileiro), tucunaré, tambaqui ou baião de dois amazonense, acompanhados de banana pacovan, de arroz com jambu ou de tucuman. Vai um cheesecaboclinho (simpático nome do sanduíche de queijo, tucuman e banana pacovan)? Ou um suco de taperabá (igualzinho cajá)? E uma caipirinha de cupuaçu?

Os passeios são agradáveis e divertidos. Percebe-se claramente, também, a preocupação com o meio ambiente e a segurança. Na focagem avistamos martim pescador, garça, jacaré, preguiça, cobra, socó... impressionante os olhos treinados do Moreno. Ele passa a lanterna pelas margens e árvores e só vai apontando os animais. Simples assim!

Para quem tem medo de animais, pode acontecer de aparecer algum no quarto para te visitar, mas no meu caso só apareceu um grilo. Grande é verdade, mas sempre um grilo. E, importantíssimo, reiterando, não há pernilongos.



Rio Negro e Arquipélago de Anavilhanas



Com PH ácido e sem matinhos nas margens, surpreenda-se, não há pernilongos na região do Rio Negro. A água tem cor de chá preto, devido à decomposição da vegetação. Na seca existem praias de areia clara, contrastando com a cor da água do rio. Tive o privilégio de me banhar nestas águas e assistir a um pôr-do-sol magnífico. A noite pude observar, de dentro do barco parado no centro do rio, um céu deslumbrante. Foram momentos mágicos.


Visitei, às margens do Rio Negro, uma comunidade ribeirinha chamada Tiririca. Uma dentre várias que reúnem 70, 80 pessoas. Eles amam futebol e as festas acontecem geralmente em torneios. Como o Amazonas só tem times na 4ª divisão, pelo menos foi o que me disseram, eles torcem para times de fora e as comunidades são conhecidas pelo time que defendem. Na Tiririca eles são Flamengo. Os membros da comunidade são quase sempre aparentados, assim, as festas tem uma importante função social. É isso mesmo que você pensou: rola paquera, namoro e casamento, contornando o problema da consanguinidade. Do que eles vivem? Fazem farinha, tapioca, tucupi, vendem artesanato, tem criações de pequenos animais, como galinhas. Fazem, também, espetinhos de restos de madeira que são repassados aos ambulantes de churrasquinho em Manaus. Detalhe, o milheiro (que curiosamente tem em torno de 340 espetinhos) é vendido a R$ 3,50. Suas casas são suspensas, porque mesmo que a água não as atinja, as estacas protegem da umidade, de animais e ficam mais frescas. As crianças vão à escola sim, em barcos fornecidos pelas prefeituras.

Fiquei hospedada em frente ao arquipélago de Anavilhanas, estação ecológica transformada em Parque Nacional em 2008 e que tem mais de 400 ilhas. É o segundo maior arquipélago fluvial do mundo, só perdendo para o Arquipélago de Mariuá, em Barcelos, no Alto Rio Negro, que tem cerca de 700 ilhas. Muitas aves, cobras, jacarés, lontras, ariranhas, preguiças. Agora, se você quer ter certeza de avistar animais vá ao zoológico. A natureza brinca de esconde-esconde todo o tempo. Anavilhanas é uma área de floresta alagada, onde na cheia só as copas das árvores ficam visíveis e pode-se navegar sobre a floresta. Deve ser lindo, ainda volto na cheia. Fiquei triste com a fumaça e o cheiro de queimada que senti quando fomos de barco assistir ao nascer do sol em um dos lagos do parque. Um detalhe interessante é que, como a região está a apenas 3° da Linha do Equador, existe pouquíssima variação nos horários do nascer e do pôr-do-sol ao longo do ano.

Fiz duas trilhas durante minha estadia por lá, mas, como já falei em outro post (As belas adormecidas), não tenho familiaridade com botânica. Olho, gosto ou não da planta, mas não sei nomes, nem os populares. Então, não esperem de mim descrições sobre a flora amazônica. Andei na floresta, vi plantas especiais, como, por exemplo, uma madeira violeta linda, mas não sei nomes. Uma das poucas exceções é o pau d´alho. A denominação é autoexplicativa: ela exala um forte aroma de alho. Tem diversos usos, mas me chamou a atenção a fabricação de móveis. O odor da madeira afasta insetos e, se o cheiro diminui, lixando novamente o odor recende. Estou precisando de uns móveis assim aqui em casa. Imaginem que depois desta experiência amazônica sem uma picada de insetos, ao chegar em casa, em meia hora já havia sido “agraciada” com duas. Só preciso saber se o aroma afasta apenas os insetos ou os amigos também! Uma curiosidade: vocês sabem como é feito o curare? Os índios misturam duas plantas, dentre elas um cipó, e enterram esta química com um sapo que também é venenoso. O veneno é poderoso. Coloca-se na seta e atira-se com a zarabatana. Pimba! O inimigo cai morto!

Sobrevivência na selva? Ui! Ainda na trilha, comi um bichinho que gosta de habitar um coquinho. Acho que é uma larva de algum inseto. Nunca pensei que fosse capaz...quando você morde faz “ploc"...São estas rodinhas brancas sobre o tronco à esquerda da foto. Tem gosto de coco e é pura proteína. Ficou com nojo é? Atire a primeira pedra quem nunca comeu goiaba com bicho!


E eis que a programação incluía pescaria de piranha. Pensem numa coisa, digamos, chata...é pior....fazia um calor de cão e só consegui pescar uma!!!!!!!!! E mínima! Muito a contragosto, apresento a prova, ou melhor, as provas: de que pesquei a piranha e de que estou gorda. Triste decadência!

Agora, uma das melhores lembranças: os botos cor-de-rosa! Não sei se é correto o que é feito, mas é inesquecível estar junto destas criaturas incríveis! Em Novo Airão, em um restaurante muito, muito simples, eles vêm comer e nadar com a gente. É uma emoção única poder tocar e interagir com os botos! Para completar, depois do mergulho, fomos à
Fundação Almerinda Malaquias, um projeto social interessantíssimo, que alia educação, geração de renda e sustentabilidade. Os artesãos produzem papel reciclado e peças com resíduos de madeiras de serrarias e estaleiros da região. São peças que mostram a fauna amazônica. E ainda fomos todos de mototaxi, inclusive um casal italiano com mais de 70 anos. Ainda bem que o homem não mergulhou, pois seus bigodes esconderiam os botos!



Não sei se é possível perceber na foto, mas este é o Curumim. Ele tem o bico torto e já é um senhor. Os dois primeiros a frequentar o "restaurante" foram ele e Ricardo. Hoje são dezesseis botos cor-de-rosa.

Manaus

Prepare-se para um calor de derreter! Mas a população transforma tudo em calor humano! Os amazonenses são de uma simpatia e cortesia encantadoras. Nas ruas, nos taxis, nos hotéis, nas lojas todos são gentis, educados e estão sempre dispostos a ajudar e informar.

Impressionou-me, também, o turismo altamente profissional. Guias com conhecimento do que apresentam e fluentes em inglês, espanhol, francês, alemão. Alguém pode dizer que se não fosse assim os turistas estrangeiros, principais visitantes da região, não viriam. Eles viriam de qualquer forma, mas houve investimento em formação de mão de obra para o setor. Não sei se com o apoio do estado ou com esforço puramente pessoal, mas houve qualificação.



Quando estiver por lá, não deixe de visitar o Teatro Amazonas, o monumento que melhor representa a riqueza do período áureo da borracha. Bom, a riqueza dos barões da borracha. Os seringueiros, estes eram espoliados. Salve Chico Mendes, que trabalhou arduamente pela defesa da floresta e dos povos que a habitam! Mas, voltando ao teatro, ele foi inaugurado em 1896. São 700 lugares em uma estrutura metálica de ferro fundido. Quem executou ou encomendou a decoração e as obras de arte do teatro foi Crispim do Amaral, um pernambucano de nascimento que estudou em Paris. Foi Crispim quem pintou o pano de boca da sala de espetáculos, que representa o encontro das águas e sobe inteiro até a cúpula, sem ser amassado ou dobrado. A cúpula arrendondada é revestida com 36 mil peças de escamas em cerâmica esmaltada e telhas vitrificadas, importadas da Alsácia. Observe que as cores são as nossas cores, do Brasil. No teto central um lustre de bronze, circundado por alegorias à música, ao drama e à tragédia, além de uma homenagem a Carlos Gomes. O salão nobre é inteiramente revestido por painéis de Domenico Angelis, representando motivos regionais e ilustrações do romance O Guarany. Os portais são todos em mármore e o assoalho é um lindo trabalho de marchetaria confeccionado com madeiras da região. Os candelabros são de Murano.

No mesmo dia, visitei o antigo Quartel da Política Militar (ou Palacete Provincial) e a Praça da Polícia. Ambos passaram por um belo trabalho de restauração. O edifício do quartel abriga hoje, dentre outras atrações, a Pinacoteca do Estado, o Museu da Imagem e do Som e o Museu de Numismática. A Pinacoteca conta com o acervo Thiago de Mello, doação do poeta amazônico.

O porto de Manaus, projetado e construído pelos ingleses em 1902 para escoamento da produção da borracha, é uma obra de engenharia desafiadora, porque o desnível entre a enchente e a vazante pode chegar a 15 metros. A flutuação permite a atracação de embarcações em qualquer época do ano.


O Encontro das Águas é um fenômeno impressionante e um passeio clássico para os que vem a Manaus. Os rios Negro e Solimões correm juntos sem que suas águas se misturem por quilômetros. Ele acontece pelas diferenças de densidade, temperatura e velocidade das águas. Existe um movimento para que seja declarado patrimônio, já que a proposta de construção de um grande porto de contêineres na região o coloca em risco.

Não deixe de ir, também, ao Bosque da Ciência, que pertence ao Instituto de Pesquisas da Amazônia e é um santuário de plantas e animais amazônicos, dentre eles os peixes-boi da Amazônia ou de água doce. Mansos, com carne apreciada e reprodução lenta - apenas um filhote por gestação de um ano, eles entraram na lista de ameaçados de extinção. No Bosque, os animais resgatados são cuidados, passam por reabilitação e quando alcançam condições são devolvidos à natureza. Todo o processo está sob a responsabilidade do Laboratório de Mamíferos Aquáticos, que este ano devolveu dois exemplares aos rios. Pesquisa-se, também, a reprodução em cativeiro. Ali nasceu Erê, em 1998, o primeiro filhote concebido e nascido em cativeiro. Pois foi lá que dei mamadeira a um filhote. Pensem numa pessoa feliz, era eu! Foi uma emoção indescritível!


sábado, 21 de novembro de 2009

Thiago de Mello

Conhecido como poeta da Amazônia, Thiago nasceu em 1926 e vive em Barreirinhas no Amazonas. Vamos começar então, “ouvindo” um pouco da poesia de Thiago:

Filho da floresta, água e madeira

Filho da floresta,
água e madeira
vão na luz dos meus olhos,
e explicam este jeito meu de amar as estrelas
e de carregar nos ombros a esperança.

Um lanho injusto, lama na madeira,
a água forte de infância chega e lava.

Me fiz gente no meio de madeira,
as achas encharcadas, lenha verde,
minha mãe reclamava da fumaça.

Na verdade abri os olhos vendo madeira,
o belo madeirame de itaúba
da casa do meu avô no Bom Socorro,
onde meu pai nasceu
e onde eu também nasci.

Fui o último a ver a casa erguida ainda,
íntegros os esteios se inclinavam,
morada de morcegos e cupins.

Até que desabada pelas águas de muitas cheias,
a casa se afogou
num silêncio de limo, folhas, telhas.

Mas a casa só morreu definitivamente
quando ruíram os esteios da memória
de meu pai,
neste verão dos seus noventa anos.

Durante mais de meio século,
sem voltar ao lugar onde nasceu,
a casa permaneceu erguida em sua lembrança,
as janelas abertas para as manhãs
do Paraná do Ramos,
a escada de pau-d’arco
que ele continuava a descer
para pisar o capim orvalhado
e caminhar correndo
pelo campo geral coberto de mungubeiras
até a beira florida do Lago Grande
onde as mãos adolescentes aprendiam
os segredos dos úberes das vacas.

Para onde ia, meu pai levava a casa
e levava a rede armada entre acariquaras,
onde, embalados pela surdina dos carapanãs,
ele e minha mãe se abraçavam,
cobertos por um céu insuportavelmente
estrelado.

Uma noite, nós dois sozinhos,
num silêncio hoje quase impossível
nos modernos frangalhos de Manaus,
meu pai me perguntou se eu me lembrava
de um barulho no mato que ele ouviu
de manhãzinha clara ele chegando
no Bom Socorro aceso na memória,
depois de muito remo e tantas águas.

Nada lhe respondi. Fiquei ouvindo
meu pai avançar entre as mangueiras
na direção daquele baque, aquele
baque seco de ferro, aquele canto
de ferro na madeira — era a tua mãe,
os cabelos no sol, era a Maria,
o machado brandindo e abrindo em achas
um pau mulato azul, duro de bronze,
batida pelo vento, ela sozinha
no meio da floresta.

Todas essas coisas ressurgiam
e de repente lhe sumiam na memória,
enquanto a casa ruína se fazia
no abandono voraz, capim-agulha,
e o antigo cacaual desenganado
dava seu fruto ao grito dos macacos
e aos papagaios pândegas de sol.

Enquanto minha avó Safira, solitária,
última habitante real da casa,
acordava de madrugada para esperar
uma canoa que não chegaria nunca mais.

Safira pedra das águas,
que me dava a bênção como
quem joga o anzol pra puxar
um jaraqui na poronga,
sempre vestida de escuro
a voz rouca disfarçando
uma ternura de estrelas
no amanhecer do Andirá.

Filho da floresta, água e madeira,
voltei para ajudar na construção
do morada futura. Raça de âmagos,
um dia chegarão as proas claras
para os verdes livrar da servidão.

Voltando do Amazonas

Este post dá início a alguns relatos sobre minha viagem ao Amazonas. Atenção, foram apenas poucos dias e não uma expedição. Estive em Manaus a trabalho, muitos anos atrás, e só agora pude voltar como turista. As informações foram coletadas antes, durante e depois da viagem e espero não ter cometido muitos erros. A ideia é registrar algumas informações para uso pessoal (a memória anda curta) e, quem sabe, despertar em outros o interesse pela região. Segundo a observação do pessoal do turismo, estamos começando a descobrir a Amazônia. Hoje 50% dos turistas é do Brasil, enquanto até pouco tempo atrás este índice não chegava a 30%. Como exemplo, eu que há mais de dois anos buscava companhia para ir até lá, finalmente encontrei minha queria sobrinha Silvana também interessada. Ou seja, numa conta esquisita, a procura dobrou! Importante dizer que a viagem foi organizada pela Viverde Turismo, empresa local, muito profissional e de atendimento supersimpático. Foi tudo combinado e acertado com o Ricardo. Recomendo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Amazônia



Minha "próxima missão", parafraseando minha amiga Aninha, umas das três ilustres e formais seguidoras deste blog, é a Amazônia. Manaus e hotel de selva próximo a Novo Airão ........ vou sábado .....



terça-feira, 3 de novembro de 2009

Maria e Sri

O Sri Lanka é uma ilha no sul da Índia antigamente chamada Ceilão. Bem, quando eu era criança chamava-se Ceilão e eu adorava aprender os nomes dos países e suas capitais. Na verdade, atormentava os que estavam próximos com brincadeiras de perguntas e respostas, tais como:

- Capital do Ceilão?
- Colombo!

Gente, mudou. Colombo continua como a capital comercial, mas a capital política é Kotte (na verdade Sri Jayawardenapura-Kotte, para quem conseguir falar).

Os nascidos por lá são cingaleses, com C, por favor. A propósito, são cerca de 20 milhões de habitantes. Eles vivem num sistema de castas e fisicamente são semelhantes aos indianos, mas a religião predominante é o budismo e não o hinduísmo.

E por que estou falando do Sri Lanka? Porque minha amiga Maria caiu de encantos por um cingalês. Vou chamá-lo de Sri.

Sri é nascido em uma família de casta superior, mas sem poder econômico. São produtores rurais. Lá é uma honra para qualquer família ter um filho monge, assim como no Brasil de nossos pais ou avós era fonte de orgulho ter um filho padre ou que, pelo menos, tivesse sido seminarista. Assim, Sri foi para o monastério aos 9 anos e só saiu aos 24 !!!!!!!! Só que ele não tinha vocação para a vida monástica, se sentia oprimido e fugiu para a Inglaterra onde completou seus estudos. Parece que isto é relativamente comum por lá. Um dos amigos de Sri, por exemplo, saiu do monastério nas mesmas circunstâncias e hoje ensina sânscrito em uma universidade alemã. Depois de alguns anos, Sri retornou ao seu País, foi perdoado pela família e hoje trabalha em um organismo internacional.

Maria, minha querida amiga, conheceu Sri nas teias da área acadêmica na qual os dois militam. A título de curiosidade, Maria é loura, mas é doutora. Eu sou morena e larguei o mestrado. Definitivamente, embora seja curiosa, goste de estudar e aprender não tenho vontade de seguir a carreira acadêmica. Maria tem a academia na alma. Então, mesmo sem o rigor do método científico, arrisco dizer que "loura burra" é uma hipótese falsa.

Depois de muita conversa via e-mail e skype, Sri aterrizou no Brasil. Os primeiros dias foram difíceis, afinal culturas completamente diferentes não se encontram assim, assim. Mas havia uma viagem programada e lá foram eles. A programação incluía, além de Brasília, Salvador, Rio, Rio-Santos e São Paulo. E não é que Sri se revelou ?!?!?!?!

Em Salvador, o Olodum Mirim deixou nosso “quase monge” enlouquecido. No Rio de Janeiro fotografou tantas mulatas no ensaio da Beija-Flor, que Maria ficou preocupada e enciumada. Em Paratii, tirou Maria para dançar em plena praça! Esse Sri, hein!!!!!!!!! Ele só não se mostrou totalmente integrado quando apareceu uma barata no quarto de hotel de Paratii:

- Maria (em pânico): “Sri, tem uma barata, uma cucaracha na cama ao lado! Ai, Meu Deus, cucaracha é espanhol, como é mesmo barata em inglês? (já desesperada) Tem um inseto aqui!!!!!!!”
-Sri (suavemente): “Maria, não devemos matar seres vivos.”
-Maria (nervosa): “Homens no Brasil matam insetos! É papel masculino!”
-Sri: “Deixe ela ir.”

Maria só conseguiu dormir depois que a barata, a cucaracha, a cockroach, tanto faz, desapareceu e ela embrulhou-se como pode no lençol e no próprio Sri! Talvez tenha sido o maior choque cultural de toda a viagem!

E Sri embarcou de volta para o Sri Lanka........... Maria ainda não sabe se irá até lá. Sri pensa em passar uns tempos por aqui estudando português. Como dar seguimento a este romance transcultural, transcontinental, transoceânico?


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A vida em 5 frascos


Dentre tantas imagens que recebemos por e-mail, gostei desta. Isto é que é poder de síntese. Embora prefira bebidas fermentadas, me sinto no terceiro frasco. E você?

domingo, 25 de outubro de 2009

Manutenção


Algumas palavras me provocam arrepios muito bons, por exemplo, viagem e namoro. Mas outras me provocam arrepios de ojeriza, por exemplo, MANUTENÇÃO.

Nosso amigo Aurélio define que são “as medidas necessárias para a conservação ou a permanência de alguma coisa ou de uma situação” e “os cuidados técnicos indispensáveis ao funcionamento regular e permanente de motores e máquinas”. Faltou dizer que são as atividades que mais nos tomam tempo e nos aborrecem.

Meu carro é até novo, mas precisa fazer revisão, calibrar os pneus, olhar a água, olhar o óleo, lavar, abastecer.

Se o campo é informática prepare-se, pois é muito bom quando funciona, mas um terror quando dá problemas. Atualizou os programas? Pode começar a reconfigurar tudo! Trocou de provedor? Atenção ... perigo. A assinatura do antivírus acabou? Corra, ou então, nada de compras via internet ou acesso bancário. Acabou a tinta da impressora? Como vou imprimir meu tíquete de viagem ou meu check-in! Quer uma informação urgente? Site em manutenção.

E a manutenção pessoal! E nem sou muito vaidosa. No cabeleireiro, ou não gostamos do corte ou a tinta ficou mais escura ou a progressiva queimou as orelhas. Na manicure a cutícula não foi bem tirada ou a cor não combina. Após a depilação, os pelos sempre encravam. Sobrancelhas tortas ou com falhas? Acontece quase sempre. Massagem é tudo de bom se for para relaxar, mas se o objetivo for estético, prepare-se para sofrer ou ficar como um dálmata: cheia de manchinhas. E malhar? Sem comentários! Lembra manutenção do peso.

Se você tem filhos pequenos ou pais idosos. Não vou me estender. A lista não caberia neste blog .....

E a saúde física? E olha que eu, Graças a Deus, só faço exames preventivos. Lá vem ginecologista, oftalmologista, endocrinologista, cardiologista, dermatologista, etc... E, me digam, por que os médicos não fazem mais nada sem um mundo de exames? Só quem já fez uma mamografia sabe o quando é sofrido. Saúde mental? Outra lista .... Ah, ia me esquecendo: você já ouviu alguém dizer feliz, feliz: vou ao dentista!

E continuando, lá vem a empregada;

- D. Luisa a máquina de lavar tá fazendo um barulho estranho.
- Hum ...
- É, barulho muito esquisito. Ah, a corda do secador também tá com problema. Tá quase arrebentando.
- Humm ...
- A senhora podia chamar o eletricista? O interruptor do quarto quebrou e a lâmpada queimou. Aquela difícil de comprar e trocar.
- Hummmm ...
- Se passar no mercado, não esquece do saco do aspirador de pó. Ele acabou desde a semana passada.
- Hummmmm ...
- Será que o eletricista entende de encanamento? A pia do banheiro tá entupida.
- Hummmmmm ...
- Sabe a porta do armário do material de limpeza. Pois é, tá emperrando. Muito difícil de abrir e fechar.
- Hummmmmm ...
- Hoje quase não consegui ouvir o Padre Marcelo. O rádio não tá pegando direito!
- Hummmmmm ...

SOCORRO!!!!!!! Já que não consigo viver sem carro, sem computador, sem cuidados estéticos, sem médicos ....... acho que vou demitir a empregada ........

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

As Belas Adormecidas


Estou com quatro bebês em casa. São mudas de acácia imperial, saboneteira, pau-ferro e pata-de-vaca. Uma de cada. Minha casa é um abrigo temporário, já que moro em um apartamento e elas precisam de espaço para um desenvolvimento sadio. Em dezembro elas irão para Minas Gerais. Crescerão na fazenda onde passei muitas de minhas férias. Estarão protegidas junto às suas irmãs, primas e tias na Mata Atlântica. Tenho certeza que será uma festa!

Nunca fui boa em reinos, classes, ordens, espécies etc e tal. Botânica e zoologia sempre foram pesadelos. Mas estou encantada com minhas mudinhas e levei um susto noites atrás. As folhas estavam, como dizer, “sem volume”. Aguei bastante. Duas horas depois elas estavam do mesmo jeito. Fiquei preocupada. Ao amanhecer corri para vê-las e estavam viçosas, cheias de saúde. E isto se repetiu por 3 dias e noites, até que percebi: as folhas da pata-de-vaca e do pau-ferro se aconchegam. Elas se fecham a noite. Minhas mudinhas têm folhas que dormem juntinhas!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Brasília (quase cinquentona)



Sou da primeira geração de Brasília. Nasci aqui. Adoro viajar, conhecer pessoas e cidades, sejam elas metrópoles ou vilas. Mas a minha vida foi construída aqui e os comentários maldosos que fazem sobre Brasília me geram, no mínimo, grande desconforto. As pessoas misturam os escândalos políticos com a cidade. Embora ainda viva em grande parte do governo federal, Brasília já tem vida própria, com produção cultural e econômica. Não culpem os brasilienses pelas mazelas que assolam o País. Somos vítimas, tanto quanto os demais brasileiros, sejam do sul, sudeste, norte, nordeste ou centro-oeste. Os forasteiros que aqui chegam são enviados dos quatro cantos do País e não é justo que sejamos apontados e acusados por suas falcatruas e desmandos.


Quase 50 anos atrás, um Presidente da República decidiu transferir a capital do Brasil para o interior. Os operários que para cá vieram buscavam uma oportunidade de vida ou a utopia de construir uma cidade a partir do nada. O superfaturamento buscavam os que já usufruíam das benesses do poder. Eu sou fruto do sonho. Portanto, não me imputem a responsabilidade ou as mazelas que advieram do sonho de meus pais.

Outros criticam a estética da cidade. O que posso dizer aos que assim se pronunciam quanto à arquitetura de Niemeyer, ao planejamento de Lúcio Costa e à arte de Athos Bulcão, Bruno Giorgi, Alfredo Ceschiatti, Burle Marx, Alfredo Volpe e outros é que aprendi a respeitar e reconhecer arte, mesmo que não seja o meu estilo favorito.

Cidade fria, sem esquinas? Minha esquina é o comércio da superquadra, onde encontro a padaria, o sapateiro, o jornaleiro, o mercado, o salão de beleza, o boteco, o restaurante e até o apontador do jogo do bicho!


O clima é quente e seco em uma parte do ano, é verdade. Mas temos, também, um período chuvoso. E a natureza do Brasil Central é linda!

As fotos que ilustram este post são de Flávio Cruvinel Brandão, um economista com alma de artista, que tem buscado os ângulos mais belos da natureza por aqui. É uma pequena amostra do que vocês podem ver no álbum completo de Flávio clicando aqui.





sábado, 26 de setembro de 2009

La Vie en Rose

Adooooorooooo a gravação de Grace Jones para La Vie en Rose, de Edith Piaf. Gente não tem o que falar. A gravação tem 30 anos. É só ouvir, ou, quem quiser, pode ouvir e ver nas duas versões. Tradicional e performática. A letra segue mais abaixo para quem se interessar.


Tradicional




Performática


Des yeux qui font baisser les miens
Un rire qui se perd sur sa bouche
Voilà le portrait sans retouche
De l'homme auquel j'appartiens

Quand il me prend dans ses Brás
Il me parle tout bas
je vois la vie en rose

Il me dit des mots d'amour
des mots de tous le jours
Et ça m'fait quelque chose

Il est entré dans mon coeur
Une part de bonheur
Dont je connais la cause

C'est lui pour moi
Moi pour lui
dans la vie
Il me l'a dit, l'a juré pour la vie

Et dès que je l'apercois
Alors je sens en moi, mon coeur qui bat

When he takes me in his arms
and whispers love to me
everything is lovely
It's him for me and me for him
all our lives
and it's so real what I feel
this is why

Et dès que je l'apercois
Alors je sens en moi,mon coeur qui bat
la vie

La vie en rose,la vie en rose
ooooh ... la vie
La vie en rose,

La vie en rose,la vie en rose
la vie en rose ,la vie en rose
la vie en rose , la vie en rose
la vie en rose, la vie en rose

Je t'aime pour toujours, mon amour

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pequena Notável

Ainda falando de Carmen, vamos às amenidades. Eu e minha amiga Carmita, assim como Carmen uma linda Maria do Carmo de olhos verdes e sorriso largo, adoraríamos ter uns tantos centímetros de altura a mais. Como não pretendemos nos submeter a qualquer procedimento experimental doloroso para aumentar as canelas, nos consola saber que não somos as primeiras ou as únicas. Carmen tinha 1,52 metro. Outras estrelas da época, que pareciam grandes, como estes varapaus das passarelas de hoje, tinham menos de 1,55 metro. Vejam a lista: Mary Pickford, Gloria Swanson, Lupe Velez, Carole Lombard, Jean Harlow, Judy Garland, Lana Turner. Tudo bem que não sei quase nada da maior parte delas. O importante é que eram estrelas em Hollywood!!!

Para suprir a “deficiência” da natureza, ainda no Brasil, Carmen usava as famosas plataformas inventadas por ela mesma. E eis que em 1938, a atriz francesa Annabella, outra estrela pequenina da época, esteve no Rio de Janeiro usando um saltinho e um solado inteiriços que fizeram grande sucesso. O nome do salto? Anabela. Acreditem, esta é a origem do nome do tipo de sola tão usada no Brasil ainda hoje. Bom, depois de tanta bobagem, para finalizar só me resta dar vivas às baixinhas, e, também, desejar vida longa às plataformas e aos saltos Anabela!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Carmen Miranda


Acabei de ler a biografia de Carmen Miranda, escrita por Ruy Castro. Com as mortes de Michael Jackson e Heath Ledger na mídia, as vítimas mais recentes, é interessante saber o que aconteceu com ela.

Carmen foi triturada pela indústria americana de entretenimento. Houve período em que fazia de 5 a 7 shows diários de 20 minutos e, depois, ainda se apresentava em espetáculos noturnos. Foi no meio desta roda viva que ela desmaiou e foi medicada com as anfetaminas que jamais abandonaria. Começou com Benzedrine, passou para Seconal, Nembutal e há quem diga que chegou ao Demerol, “um narcótico à base de morfina e que, combinado com os barbitúricos, tinha o efeito sedativo de uma anestesia” (p. 446 da biografia).

Mas, apesar do enorme sucesso, a estrela que em 1945 chegou, segundo o fisco americano, a ser a mulher mais bem remunerada dos Estados Unidos, teve seu talento reconhecido apenas parcialmente. Mesmo depois de dominar o inglês, continuava dando entrevistas num “dialeto” mambembe, pois ficou prisioneira do rótulo que recebera, onde só cabia o papel de comediante matuta, que sequer sabia se expressar.

Ainda no âmbito profissional, era atormentada, também, pelas críticas veiculadas aqui no Brasil, onde era acusada de renegar suas origens, de estar americanizada.

Acrescente-se a tudo isto, o drama pessoal provocado pelo desejo de ser mãe, o que, dentro da hipócrita e puritana sociedade americana da época (?), só era possível dentro do casamento. Para não cair no ostracismo, ela chegou a fazer um aborto e para realizar o sonho casou-se com um arrivista, que não lhe deu o filho, mas legou-lhe o alcoolismo.

No fundo do poço e na tentativa de superar a depressão e a dependência provocadas por este quadro, Carmen chegou a recorrer a eletrochoques, o tratamento preconizado à época e ministrado a frio. A violência era tamanha que provocava amnésia no paciente.

Quanto desperdício de vida e talento! Carmen morreu em 1955, aos 46 anos.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

À Flor da pele


Voltei de viagem e gostaria de retomar o tema proposto pelo belíssimo ensaio fotográfico “linkado” acima e pela matéria À Flor da Pele, publicada no Jornal do Commercio de Recife. Pois é, em geral nós não pensamos nas restrições impostas por determinadas condições de saúde, até que nos deparamos com um relato sobre elas. Assim aconteceu comigo em relação ao albinismo. Ao ler a história dos três irmãos de Olinda, que convivem com dificuldades econômicas, além das de saúde, saí em busca de informações. O que pude perceber é que a poesia com que a história foi escrita passa longe da realidade dos portadores do albinismo e das discussões que ela deveria colocar. Encontrei o blog “O albino incoerente’, mantido por Roberto Bíscaro (Dr. Albee), professor de literatura do interior de São Paulo, onde diversas destas questões são abordadas e, o mais importante, levanta a bandeira de políticas públicas que atendam às necessidades dos portadores do albinismo.

Hoje, tendo em vista a repercussão da matéria, aquelas três crianças certamente estão vivendo em melhores condições, por uma ação assistencialista daqueles que se sensibilizaram. Talvez seja esta, entretanto, a ocasião para se discutir políticas públicas para os portadores do albinismo.

Pipocas !!!!!

A área de criação da publicidade brasileira é reconhecida internacionalmente, e, de vez em quando, aparece um anúncio especial ou diferente ou engraçado. Vocês já assistiram o novo da Saveiro da Volkswagen ? A agência é AlmapBBDO e foi filmado no Uruguai. Não sei se vende o carro, mas a idéia de jogar milho na cratera do vulcão para fazer pipoca é divertida e inusitada. Agora, já que o comercial é nonsense, podia ser pipoca mesmo, não é ?


domingo, 30 de agosto de 2009

Poltronas Yin Yang


















Adoro decoração e design. As ideias materializadas em formas retrôs ou modernas, materiais tradicionais ou tecnológicos, de alto custo ou mais acessíveis, com usos os mais diversos. Não importa. De vez em quando navego por sites da área, onde é possível descobrir peças lindas. Numa destas “andanças” me deparei com as poltronas Yin Yang. Foi paixão à primeira vista. Peças do suíço Nicolas Thomkins, foram desenvolvidas por uma empresa alemã chamada Dedon. Ao custo de, cada uma, mais de £ 7.000 (isto mesmo, libras), soube que jamais as teria. Mas queria vê-las ao vivo, sentir a textura da fibra, enfim, namorar as peças. E qual não foi minha surpresa ao encontrá-las em Paraty. Pois é, numa pousada muito chique dentro do centro histórico, onde eu naturalmente não estava hospedada, mas que pedi para visitar, lá estavam elas à beira da piscina. Não me decepcionei, são peças belíssimas.



sábado, 29 de agosto de 2009

Unhas Vermelhas


Pintei minhas unhas de vermelho e, embora não tenha ficado feio, entrei em crise. Podem rir! Passei em revista meu armário e tudo era inadequado. Assumo minha incompetência. Acho que não sei portar e combinar unhas vermelhas. Lindas nas amigas, mas em mim estranhíssimas. Engraçado lembrar que namorei um rapaz adorador de unhas vermelhas. Claro que o namoro não podia dar certo. Bom, acabei de tirar o vermelho. Voltei a ser a mulher básica de sempre. Mais que isto, acho que recuperei minhas mãos, meus pés, meu estilo, enfim, minha identidade.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Paz e Amor – Movimento hippie


Quando adolescente tinha um sonho recorrente. Eu corria e depois voava com braços abertos e vento no rosto. Não me lembro se já relatei e trabalhei o sonho em terapia, mas acho que o vôo representava desejo de liberdade. Creio que é o mesmo desejo que me faz sentir atração pelo movimento hippie, pela contracultura. O tema me veio à lembrança com os 40 anos de Woodstock e os 20 anos da morte de Raul Seixas.

Ao ler este post, alguém que não me conheça pode pensar que sou “doidona”. Não sou. Esse sentimento sempre foi muito mais uma fantasia do que um estilo de vida. Até mesmo porque, pelo menos no auge do movimento, eu era uma criança. Não entendia de sociedade de consumo, desigualdades sociais, segregação racial, guerra, amor livre, filosofia oriental, viver em comunidade, ambientalismo, muito menos de marijuana, cogumelos, ácido, etc e tal. Já um pouco mais velha, especialmente na época da universidade, o que acabei adotando foi a estética hippie, com muitos vestidos soltos floridos, batas e sandaliazinhas rasteiras. Tardiamente experimentei a viagem mochileira e .... adorei !

No Brasil, floresceram o Tropicalismo, Mutantes, Raul Seixas, Novos Baianos, enfim, artistas que de formas diferentes também representavam o movimento hippie, a psicodelia. Em pleno regime militar, dependendo de onde viessem as críticas, eram acusados de comunistas a alienados.

Mas é curioso observar que, seja aqui ou acolá, o movimento teve profundo impacto cultural, mas, e político ?!?!?!?! Não acabou com a guerra do Vietnã nem com a ditadura militar.

Bem, tudo isto é para te perguntar: em que época você gostaria de ter vivido ou com qual período histórico você se identifica? Não sei a sua resposta, mas a minha é anos sessenta. Agora, se quiserem sentir o clima hippie, assistam Hair, do diretor Milos Forman. Ouçam Aquarius, Manchester, Good morning starshine e I got life, com a cena antológica da dança sobre a mesa. Clique aí na imagem. É irresistível!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Preciso emagrecer. Preciso baixar o colesterol. Preciso caminhar, malhar, nadar. Preciso procurar um nutricionista. Preciso comer menos pães, massas, chocolates ... Preciso beber menos. Preciso parar, de novo, de fumar. Por que será que só consigo lembrar da Radical Chique: “Certas dietas são simples. É só cortar açúcar, frituras, massas, molhos, bebidas alcoólicas, pães, biscoitos... e os pulsos”. Sábio Miguel Paiva !

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Não encontrei um título


Ao começar esse blog, nunca quis ou pensei em transformá-lo em espaço confessional. Mas, “sometimes” é impossível fugir.

Essa semana, me deparei com uma situação muito difícil. Minha mãe, uma senhora de mais de 80 anos, foi vítima de uma tentativa de golpe por telefone. Todos nós somos alertados diariamente, seja pela imprensa, polícia ou relato de amigos, para as estratégias utilizadas pelas quadrilhas. Mas quando acontece, esteja você na condição de vítima ou de pai, mãe, filho, irmão, você se sente completamente despreparado para lidar com a situação. Minha mãe está traumatizada e envergonhada por ter caído na conversa do golpista, a ponto de ter informado meu local de trabalho e número de celular.

E aí vem a pergunta: o que se faz numa hora assim? Como lidar com uma senhora que soluça escondida a noite, por ter “errado”, porque se sente culpada por ter exposto sua família, aquela que a vida inteira ela defendeu e protegeu? Eu, quase sempre intolerante e sem paciência com as dificuldades diárias que a convivência com a idade impõem, fiz o que meu coração mandou: me deitei ao lado dela, compartilhei a responsabilidade, o erro, a impotência e depois fiquei quietinha.

No dia seguinte, quando estávamos mais calmas, tentei conversar. Não sei se ela tem compreensão para alcançar essa realidade que nos toma de assalto dentro de casa, lugar considerado seguro até pouco tempo atrás. Mas conversando talvez possamos superar e minimizar riscos. Não sei se o caminho certo é este. Aliás, nem sei se há caminho certo em casos assim. Agi por instinto. Espero não ter errado, mais uma vez, nesta relação tão difícil entre filhos e pais idosos e dependentes.

domingo, 5 de julho de 2009

Metamorfose


Assistindo ao noticiário sobre a Cúpula da União Africana, realizada na Líbia semana passada, levei um susto com a cara do Khadafi. O que é aquilo? Ele sempre foi assustador pelo que representa, mas era até um árabe interessante, fisicamente falando. Agora o homem está deformado.

Para os mais novos, que talvez não saibam, Khadafi está no poder há 40 anos. Desde 1969 é o homem forte da Líbia, eufemismo para ditador. Homem polêmico, acusado de terrorismo, chegou a assumir a responsabilidade pela explosão do avião da Pan Am sobre a Escócia em 1988, quando morreram 270 pessoas.

Aí fiquei pensando nas transformações físicas que tenho visto, principalmente nos meios artístico e político. Será que as pessoas não têm crises de identidade quando se olham no espelho? Lembrei do Raul Seixas em metamorfose ambulante. As mudanças têm sido buscadas mais na aparência do que na reflexão.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Santo Antônio

Minha amiga Marta (codinome) fez aniversário em junho e é devota de Santo Antônio, que é, também, um dos santos do mês. Como estive com ela poucos dias atrás, lembrei-me de uma pequena história.

Há alguns anos, eu vivia uma fase muito difícil, com grave problema de saúde em casa. Eis que Marta, sempre solidária, chega com uma novena de Santo Antônio. No papelzinho estavam as instruções:

"Durante nove terças-feiras acenda uma vela e reze cinco vezes o Pai Nosso, a Ave Maria e Glória ao Pai.
Ofereça a Santo Antônio e faça cinco pedidos: dois impossíveis e três fáceis.
Apague a vela, assim que terminar os pedidos.
Na última terça-feira, deixe queimar até o fim."

Antes mesmo de começar, recebo um telefonema de Marta. Ela me pede para corrigir a novena quanto ao grau de dificuldade dos pedidos. Afinal, disse ela, "para Santo Antônio nada é impossível". Podia fazer até cinco pedidos difíceis. Achei engraçado corrigir uma novena e rimos muito juntas.

Decidi rezar e, claro, fazer meus cinco pedidos. Distraidamente, talvez mais concentrada nos pedidos que faria depois, rezei o Pai Novo e a Ave Maria cinco vezes. E continuei com:

"Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do Céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu Único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna. Amém."

Rezei cinco vezes e apaguei a vela.

Nas terças-feiras seguintes, dei segmento à novena, cheia de fé, como só nas horas difíceis descobrimos possuir. Depois de umas seis semanas .... bem, só havia um cotoco da vela que deveria durar as nove semanas. Entrei em desespero! A vela ia acabar antes do final da novena. Que tragédia! Marta, socorro!!!!!!!!!!!!!!!! Que é que eu faço? O que fiz de errado?

Ok. Vocês perceberam? Releiam as instruções. Viram? Eu tinha que rezar:

"Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre. Amém".

A descuidada aqui estava rezando o Credo, a oração errada, que é muito maior!!!!!!!!!!!!!

Nas semanas seguintes, pedi muitas desculpas a Santo Antônio e rezei o mais rápido que pude. E a vela, felizmente, chegou ao final da novena!

Não sei se vocês acharam graça, mas sempre me divirto muito quando relembro essa história. A novena não curou meu irmão, mas, além de me divertir, certamente, me fortaleceu para vencer os momentos difíceis.

Marta, amiga querida, este post é para você. Reze para Santo Antônio, ele não vai te desamparar!

domingo, 28 de junho de 2009

Irã


Em primeiro lugar, o que vou escrever não tem pretensão jornalística, muito menos de análise. Aspectos culturais também não foram levados em consideração.

A mobilização dos iranianos, denunciando fraude no processo eleitoral, reivindicando mudanças e buscando formas de comunicar ao mundo o que acontece por ali, me sensibiliza. Me comove ver aquela luta desigual entre a população civil e a repressão armada.

Ahmadinejad, um ultraconservador que já ameaçou Israel, nega o holocausto, rechaça a fiscalização internacional às instalações nucleares do País, insiste em bloquear qualquer processo de abertura democrática e nega a concessão de direitos às mulheres, foi declarado vencedor com mais de 60% dos votos. O problema é que contra todas as evidências pré-eleitorais.

O Conselho de Guardiões, instância máxima no regime teocrático do Irã, não concorda com nova eleição, apesar das denúncias e dos protestos diários. Mas, com perfil urbano e mais instruído, os eleitores de Moussavi, ex-primeiro-ministro e candidato da oposição, continuam a protestar e a denunciar.

Em 1979, quando o aiatolá Khomeini liderou a oposição e derrubou o xá Reza Pahlevi, o Pacotão, irreverente bloco carnavalesco criado por jornalistas em Brasília, cantava o seguinte:

“Geisel você nos atolou
O Figueiredo também vai atolar
Aiatolá. Aiatolá,
Venha nos salvar
Que esse governo já ficou
Gagá, gagagageisel ....”

A música era ótima, o carnaval foi animadíssimo e o recado de mudança dado. Mas ainda bem que nosso socorro não eram os aiatolás!

Tomara que as negociações por lá cheguem a bom termo, que a história seja mais generosa com os iranianos daqui para a frente. Que os traumas e as mortes não tenham sido em vão.

sábado, 27 de junho de 2009

Um pouquinho de diversão


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael Jackson

Ele em 1958, eu em 1960. Com diferença tão pequena de idades e ele começando uma carreira tão cedo, cresci ouvindo, assistindo, acompanhando a obra e a vida de Michael Jackson. Ainda criança, quase adolescente, já ouvia o Jackson Five. Um pouco adiante, na época das discotecas, dancei muito ao som daquela música contagiante. Só queria fazer o registro da perda de um ídolo que me embalou em vários momentos. Talento enorme e vida atormentada. Descanse em paz!

Óculos



Onde estão meus óculos? Conseguem imaginar uma senhora sem óculos? Não tentem, é um pesadelo. Sou prevenida, tenho três pares: um na bolsa, outro em casa e mais um reserva. Hoje aconteceu o que eu julgava impossível, perdi meus óculos. O primeiro deve estar dormindo no trabalho ou no carro, porque desapareceu da bolsa. O segundo, este escolheu descansar em algum lugar tão improvável, que não se acha. O terceiro, aquele reserva, descobri que está como estepe vazio, não serve para nada. Esqueci de trocar as lentes.

Ano passado, o oftalmologista me respondeu que minhas lentes não passariam de 3 graus. Este ano atingi a meta. Dele. E ele, o “oculista”, com lindos olhos azuis que ainda enxergam tudo, deu nova sentença: “não passarão de 3,50”. Só não tive um chilique, porque ainda enxergo aqueles olhos.

No computador sempre é possível aumentar a fonte. Vinte e quatro parece bom. Bom, mas vinte e seis é melhor. O problema é que cardápios, livros, jornais, enfim, estas coisas normais do nosso dia a dia, pelo menos em suas formas convencionais, ainda não atendem a comandos. Não adianta gritar: - Fonte vinte e oito!

E quando você quer se maquiar?
Tira os óculos.
Passa a base.
Põe os óculos.
Tá bom.
Tira os óculos.
Passa o pó facial.
Põe os óculos.
Ok.
Tira os óculos.
Passa a sombra.
Põe os óculos.
Satisfatório.
Tira os óculos.
Passa o lápis de olhos.
Põe os óculos.
Ainda precisa de retoque.
Tira os óculos.
Retoca o lápis.
Põe os óculos.
Agora está bom.
Tira os óculos.
Passa o rímel.
Põe os óculos.
Os olhos estão bons (a maquiagem). Mas uma corzinha nas bochechas cairia bem.
Põe os óculos.
Procura o pincel.
Tira os óculos.
Aplica o blush.
Põe os óculos.
Perfeito.
Só falta o batom.
Ufa, pelo menos agora não preciso tirar os óculos, eles não ficam na frente da boca.
Passa o batom.
Tira os óculos.
Analisa-se o efeito. Uma vez aprovado, você já está pronta para sair.
Ah, não se esqueça de levar um par.
Um retoque pode ser necessário.

Feita a maquiagem me diga como você paquera de óculos !?!?!? “Téte-à-téte” de óculos para “vista cansada”!?!?!?! Bem, isto é um capítulo à parte, que pretendo detalhar em outra ocasião, mas lembre-se do Herbert Viana: “Eu não nasci de óculos, eu não era assim, não!” E, se você vencer esta etapa, prepare-se para emoções mais fortes. A falta de óculos na intimidade é trágica! Acho que nem vou voltar a este tópico.... Ah! Um último comentário, caso vocês tenham trocado celulares. Você nunca sabe quem está ligando, mesmo que o remetente esteja na sua agenda. Você simplesmente não consegue enxergar o nome ! E até achar os óculos, o coitado do outro lado já desistiu a muito tempo.

Outro problema seriíssimo dos óculos para perto é puxá-los para a ponta do nariz e olhar para o interlocutor por cima da armação. Atenção, não adianta resistir, é instintivo. Você está lendo, alguém se aproxima e se dirige a você. Ou, você está trabalhando no computador e um colega te chama do outro lado da sala. O que você faz? Não dá para puxar a pessoa, então você puxa os óculos. Desconfio que aquelas rugas que aparecem no pescoço não são consequencia do envelhecimento, do sobrepeso ou daqueles nódulos na tireóide. São culpa da postura que os óculos provocam. Não tem jeito, você levanta os olhos, abaixa a cabeça e dobra o pescoço.

Bom, já é tarde, meu nariz está marcado, mas antes de terminar, lembro que eles podem ser objeto de fetiche para alguns. Passam uma aura de seriedade ou intelectualidade que tem seu charme. Pelo menos há esperanças, já que cirurgias seguras ainda não estão disponíveis.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Blog ?!?!?!?!?! E agora ?!?!?!?



Ainda não descobri o que pretendo escrever neste blog. Buscando temas, penso que alguns são muito pessoais e outros sem relevância. Pensei em escrever sobre viagens ou pessoas ou fatos que, mesmo não exatamente atuais, seriam divertidos ou curiosos. E continuo na mesma. Afinal, para que serve um blog ? Crônicas, poesias, declarações de amor (ou ódio), saudosismo, esperança, compartilhar (emitir) opiniões sobre filmes, livros, shows, peças, matérias que estão na mídia ? Falar de família, amigos, trabalho, moda, decoração, (des)elegância, saúde, doença, gastronomia, calorias (não ouçam um eventual conselho, era magrela, estou gordinha), crenças, esportes, artes, política ... Outro dia li uma declaração do Saramago, onde ele criticava a falta de cuidado na escrita e no conteúdo dos blogs. Tremo nas bases. Estou me incorporando ao lixo ?

Lá no Orkut tenho um perfil, pouco utilizado é verdade, mas que me mantém em contato com primos, muitos primos. É funcional (sou virginiana) ! Fico atualizada com acontecimentos da família. Já encontrei, também, pessoas queridas com as quais perdi contato nas mudanças da vida. Mas aqui é diferente. Na adolescência e mesmo aos 20 anos, teria assuntos sem fim. Os blogs não existiam, mas o diário, eventualmente mantido a chave, era interlocutor frequente. Mas não sou mais tagarela. Não sei se é uma evolução, mas me transformei em ouvinte. Ando “rouca” de tanto ouvir ! Será que o segredo é simplesmente “pensar alto” ?

Vou tentar ! Das mansardas do meu coração e da minha razão.